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Mostrando postagens de 2023

O Quebra-Nozes

Apesar de ter ganhado presentes maravilhosos na véspera de Natal, Marie se apegou a um quebra-nozes em formato de boneco que, sendo sincera, passava longe do quesito beleza. Ao final da noite, depois de alguns acidentes com seu novo brinquedo, Marie não poupou esforços para arrumar um cantinho apropriado para o quebra-nozes no armário da sala. Após cumprir sua missão, a meiga garotinha - ainda na sala - não esperava ouvir ruídos estranhos em vez do cuco tradicional do relógio. E o pior de tudo foi ver seu padrinho, o inventor Drosselmeier, sentado em cima do grande relógio de parede e, em seguida, se deparar com um exército de camundongos liderado por um rei de sete cabeças. Mas se você pensa que as surpresas acabaram por aí, não se engane. Afinal, Marie viu os brinquedos do armário ganhando vida e, sob o comando do quebra-nozes, se organizando para enfrentar os invasores. A partir desse momento, ela conhece uma realidade misteriosa e até um pouco assustadora, vive aventuras, descobre

Roverando

“Quando tinha 4 anos, Michael, um dos filhos de J.R.R. Tolkien perdeu seu amado cachorro de brinquedo na praia. Para consolá-lo, seu pai improvisou uma história sobre Rover, um cachorro real que é magicamente transformado em um brinquedo e precisa encontrar o mago que o enfeitiçou para poder voltar ao normal. Rover pede ajuda a um feiticeiro-da-areia, que o envia à Lua e, mais tarde, ao mar.” “Roverando” foi uma leitura leve que mergulhou minha mente na trama de tal forma que acalmou a agitação que costumo sentir nos últimos meses do ano. A determinação do pequeno Rover, o modo que ele trava amizades e o quanto esse cãozinho aprende durante o tempo em que tenta chegar ao seu destino me proporcionaram encantamento e diversão. Mas sabe o que mais aprendi com o Rover? Aprendi sobre paciência. Afinal, em um mundo no qual podemos resolver muita coisa por meio de um simples clique (o que é maravilhoso), arriscamos sentir apego ao que é imediato e tendemos a ignorar que certos propósitos nece

A Música do Silêncio

“ Debaixo da Universidade, bem lá no fundo, há um lugar escuro. Poucas pessoas sabem de sua existência, uma rede descontínua de antigas passagens e cômodos abandonados. Ali, bem no meio desse local esquecido, situado no coração dos Subterrâneos, vive uma jovem. Seu nome é Auri, e ela é cheia de mistérios .” Em "A Música do Silêncio", o leitor acompanha Auri vivendo seus dias enquanto espera a visita do Kvothe . Partindo dessa informação, o que posso adiantar é que você não deve abrir o livro com expectativa de encontrar aventuras ou uma trama repleta de reviravoltas. É por isso que o autor deixa bem claro que muitas pessoas podem não gostar da leitura.  Bem, esse não foi, nem de longe, o meu caso. Afinal de contas, eu me apaixonei pela narrativa. Patrick Rothfuss apresenta a realidade da personagem de uma forma sensível e poética. Por meio de suas palavras, é possível entrar em contato com o silêncio. Mas não um silêncio qualquer, e sim aquele que abre o caminho para que o si

Botchan

Autor: Natsume Soseki Editora: Estação Liberdade Sobre Ao pensar em uma pessoa intensa no amor e no ódio, imprudente, impaciente e que não perde a oportunidade de entrar em uma briga, certamente vou me lembrar do Botchan, protagonista deste livro. Publicado pela primeira vez em 1906, “Botchan” apresenta a história de um rapaz de 23 anos de Tóquio que, após a morte dos pais, muda-se para o interior com o intuito de trabalhar ensinando matemática em uma escola. Quando esse jovem da metrópole chega à  pequena ilha de pescadores, precisa lidar com uma realidade muito diferente. Afinal, além de conviver com o oposto da modernidade à qual estava acostumado, ele precisa resolver seus problemas sozinho, sem a ajuda de Kiyo, uma criada que serviu sua família por muitos anos e o tinha em alta conta. Botchan não consegue lidar com infortúnios de forma racional. O rapaz sempre tenta resolver os seus problemas da maneira mais ignorante e imatura possível. Esse jovem está cercado de alunos que não n

Confissões

Título: Confissões Autor: Santo Agostinho Tradução: Beatriz S. S. Cunha Editora: Principis Em “Confissões”, escrito no século IV, Santo Agostinho descreve os caminhos até sua conversão, revela suas inquietações e relata suas experiências de vida. Ao longo das páginas, o leitor encontra preces lindas e reflexões filosóficas acerca de assuntos, como a origem do bem e do mal, criação, memórias e tempo. Admito que não foi uma leitura fácil, pois a densidade do conteúdo exigiu um pouco mais de concentração da minha parte. Portanto, preciso ler o livro mais vezes para ter uma compreensão mais profunda. Apesar de não ter assimilado tudo, gostei da experiência de conhecer "Confissões" e pretendo ler outros livros do autor. Abaixo, você pode conferir um trecho do livro que me deixou bastante emocionada. Sem dúvida, a passagem está entre as mais belas que já li na minha vida. Se você curtiu  este post sobre "Confissões", aproveite a visita para ler também " Cristianismo

O gato que amava livros

Tigre, um gato falante, está à procura de alguém que ame com sinceridade os livros para ajudá-lo em uma missão de resgate. Rintaro Natsuki é um jovem bondoso e sincero, que foi criado com muito carinho pelo avô, o proprietário da livraria Natsuki. A loja de livros usados sempre foi um lugar de conforto e acolhimento para o garoto. Ele amava passar horas do seu dia lendo em meio às estantes abarrotadas.   Depois do falecimento do avô, além de lidar com a dor do luto, Rintaro precisa encarar a possibilidade de se despedir desse ambiente tão especial e cheio de boas recordações. É durante esse momento de sua vida que Rintaro se depara com o gato falante no meio da livraria. Tigre quer a ajuda do garoto para acompanhá-lo em sua missão de salvar livros que estão sendo maltratados. A partir desse encontro, acompanhamos aventuras surreais e uma história comovente sobre coragem, amizade e literatura. “O gato que amava livros” me surpreendeu pela profundidade das reflexões. Na trama, Rintaro e

Noites Brancas: Romance sentimental (Das memórias de um sonhador)

Autor: Fiódor Dostoiévski  Tradutor:Rubens Figueiredo Editora: Penguin-Companhia Um sonhador. Quatro noites. A possibilidade da felicidade. O protagonista é um homem solitário que usa a fantasia como uma forma de escapar de sua condição. Ele tinha o hábito de vagar pelas ruas de São Petersburgo observando pessoas e casas, cantarolando e compartilhando seus sentimentos com a cidade. “Eu caminhava e cantava, porque, quando estou feliz, sempre cantarolo algo baixinho, como faz qualquer pessoa feliz que não tem amigos nem bons conhecidos e que, nos momentos alegres, não tem com quem dividir sua alegria.” Mas algo mudou quando, em uma de suas caminhadas, ele conheceu a jovem Nástienka. Depois desse encontro inesperado, esse homem, que se denominava um sonhador, teve um vislumbre da ausência da solidão e a experiência de dividir um pouco de si com uma pessoa real.  O enredo se desenvolve em quatro noites, e o sonhador é quem narra os eventos para o leitor. Considerações Eu amei o narrador e

O Deserto dos Tártaros

“ " O deserto dos tártaros" (1940), obra-prima de Buzzati, conta a história de jovens oficiais que consomem toda a sua existência em uma solitária fortaleza de fronteira, esperando em vão o ataque dos tártaros. Mais do que isso, o livro retrata a angústia, a resignação e a solidão do homem, incapaz de escapar a seu próprio destino .” Um dos aspectos marcantes do livro é como o virar das páginas faz o leitor se sentir angustiado ao olhar para a própria vida.  Todo mundo quer chegar ao fim da estrada, olhar para trás e sentir que viveu seu propósito. No entanto, a nossa passividade diante da vida pode nos levar ao mesmo lugar do protagonista, Giovanni Drogo. Podemos viver alguma situação de insatisfação duradoura e, sem fazer nada em relação a isso, esperar que, um dia, tudo se transforme. E não seria novidade confundir essa acomodação com paciência, persistência ou força de vontade. Por outro lado, ao tomar distância do que estamos acostumados, podemos, em um primeiro momento,

Antes que o café esfrie

“ Em uma ruazinha estreita e silenciosa de Tóquio, num subsolo, existe um estabelecimento que, há mais de 100 anos, serve um café cuidadosamente preparado. Além disso, uma estranha lenda urbana conta que os clientes podem viver ali uma experiência única: fazer uma viagem no tempo. ” Em “Antes que o café esfrie”, acompanhamos a história de quatro pessoas que optaram por fazer essa viagem. O detalhe é que suas palavras e ações não poderão alterar o presente. Então, qual seria a vantagem de percorrer esses caminhos? Trazendo essa ideia para a minha vida cotidiana, pude refletir sobre as vezes em que fiquei remoendo situações do passado, ou quando me peguei ansiosa em relação ao futuro. Foi então que me dei conta de que, por mais que a minha mente teime em permanecer nesses lugares, a verdade é uma só: é somente no presente que eu posso me movimentar para alterar minha realidade. Contudo, acredito que essa capacidade de ser um agente transformador da própria vida depende de como lidamos co

O Nariz

Imagine acordar e perceber que o seu nariz sumiu. Isso mesmo, ver que seu nariz desapareceu e ter no lugar dele uma espécie de panqueca. Pior do que isso, encontrá-lo passeando por aí e descobrir que ele "venceu na vida" antes de você. Pois bem, Kovaliov é um homem que perdeu o nariz e está desesperado para recuperá- lo. Continue a leitura e confira algumas considerações sobre o livro. Considerações “O Nariz” apresenta um enredo que logo desperta curiosidade pela situação inusitada. Afinal, temos um nariz independente do corpo, que é muito esnobe e afirma não conhecer o seu dono. Por outro lado, em se tratando de presunção, Kovaliov não ficava para trás. No conto, o protagonista era assessor colegial, mas chamava a si próprio de major, visto que o título era mais imponente.  Além disso, havia um sentimento forte de indignação do protagonista. Pois, onde já se viu, um homem como ele - que tinha em vista o cargo de governador e era popular entre as damas - ficar sem o nariz? O

Amêndoas

Sobre Yunjae nasceu com alexitimia, uma condição neurológica na qual a pessoa enfrenta dificuldade para detectar e expressar sentimentos.  Com esse cenário em mente, não é difícil imaginar quão complicado era para esse garoto estabelecer conexões a ponto de conseguir fazer amigos. A sorte de Yunjae foi poder contar com o amor e apoio de sua mãe e avó.  Contudo, com apenas 16 anos, esse jovem vê o seu mundo desmoronar. A partir desse acontecimento, ele vai precisar aprender a lidar com pessoas e sobreviver em um mundo complicado, ao mesmo tempo em que luta para compreender o que acontece dentro de si. “Ninguém consegue parar o tempo, e as pessoas passam por muita coisa na vida.” Considerações A escrita de Won-pyung Sohn é comovente e transborda empatia, pois a narrativa permite ao leitor se conectar de forma profunda com o protagonista, tão profunda a ponto de se colocar no lugar dele. Isso, por si só, já me deixou impressionada. Afinal de contas, estou falando de um livro narrado por u

Diário de um homem supérfluo

A duas semanas da própria morte, Tchulkatúrin decide escrever um diário íntimo para contar a si mesmo toda a sua vida. Ao pensar sobre o passado, esse jovem à beira da morte revela não ter encontrado um lugar no qual pudesse se encaixar. Também confessa sentir a ausência de um papel significativo no mundo para ele. Reconhecendo sua própria condição, não faltaram argumentos para consolidar uma resolução sobre si, a de que era um homem supérfluo. “... de um modo geral, não sou nenhum tolo; às vezes até me vêm à mente ideias bastante engraçadas e não de todo banais; mas, como sou um homem supérfluo e tenho um cadeado interno, para mim é apavorante expressar meus pensamentos, tanto que sei de antemão que hei me expressar de modo sofrível .” Nem acredito que finalmente criei coragem para conhecer a literatura russa. Confesso que nunca tentei ler, pois havia colocado na minha cabeça que era muito difícil e não conseguiria entender nada. (Por que a gente é assim?) Tenho certeza de que a exper

Quero comer seu Pâncreas

Em um primeiro momento, você pode até estranhar o nome do livro, mas tenho certeza que será impossível não se emocionar quando descobrir o que ele representa. “Certo dia, eu, um garoto do colegial, encontrei um livro enquanto estava no hospital cujo título era “Convivendo com a Morte”. Esse livro era um diário secreto escrito pela minha colega de classe Sakura Yamauchi onde ela escreveu que já não tinha mais tanto tempo de vida devido à sua doença no pâncreas…” No começo da leitura, a gente já sabe que a Sakura morreu. A partir desse ponto, voltamos no tempo para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos até o falecimento. É por meio do olhar desse garoto reservado e com dificuldade de socializar que conhecemos a história desses dois e entendemos o impacto dessa relação na vida dele. Se você leu até aqui com um pouco de atenção, percebeu que não citei o nome do protagonista.  Sobre isso, a única coisa que posso adiantar é que você só vai ter acesso a essa informação quando estiver se