A duas semanas da própria morte, Tchulkatúrin decide escrever um diário íntimo para contar a si mesmo toda a sua vida.
Ao pensar sobre o passado, esse jovem à beira da morte revela não ter encontrado um lugar no qual pudesse se encaixar. Também confessa sentir a ausência de um papel significativo no mundo para ele. Reconhecendo sua própria condição, não faltaram argumentos para consolidar uma resolução sobre si, a de que era um homem supérfluo.
“... de um modo geral, não sou nenhum tolo; às vezes até me vêm à mente ideias bastante engraçadas e não de todo banais; mas, como sou um homem supérfluo e tenho um cadeado interno, para mim é apavorante expressar meus pensamentos, tanto que sei de antemão que hei me expressar de modo sofrível.”
Nem acredito que finalmente criei coragem para conhecer a literatura russa. Confesso que nunca tentei ler, pois havia colocado na minha cabeça que era muito difícil e não conseguiria entender nada. (Por que a gente é assim?)
Tenho certeza de que a experiência satisfatória que tive no meu primeiro contato se deve à edição da Editora 34. Além da qualidade do material físico, o livro conta com um posfácio muito rico. Esse texto apresenta o cenário histórico da sociedade russa do século XIX e oferece suporte para que o leitor tenha uma compreensão mais profunda.
Bem, ao ler as confissões de Tchulkatúrin, acessamos os aspectos internos que constituem a natureza do protagonista.
Quando me dei conta das angústias, inquietações e dos sentimentos desse jovem em relação à sua existência, me peguei pensando em como um livro escrito há tanto tempo, em um cenário e em um país tão diferentes do nosso pode ressoar de alguma forma com o indivíduo da atualidade.
Afinal de contas, hoje em dia, não é difícil para ninguém se sentir deslocado socialmente, conviver com aquele pensamento de “sou pior que todo mundo” ou, ainda, saber o que precisa ser feito, mas, por algum motivo, não conseguir tomar uma atitude. Quem nunca passou por isso?
Estas foram algumas reflexões sobre Diário de um homem supérfluo. Você já leu algum autor russo? Se sim, dê a sua dica de um livro para iniciante nos comentários.
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