Escrito em 1879, “Uma Confissão” registra a investigação de Tolstói sobre o sentido da vida e compreensão da fé. Nessa época, aos 51 anos, sua carreira estava consolidada na Rússia e sua fama se estendia a outros países. Ele era casado, tinha conforto financeiro e prestígio. Contudo, uma transformação de sentimentos em relação à realidade e questões sobre a finalidade da existência passaram a inquietar seu espírito.
“Assim eu vivia, mas há cinco anos começou a acontecer comigo algo muito estranho: comecei a ter momentos, no início, de perplexidade, de interrupções da vida, como se eu não soubesse como viver, o que fazer, e me perdia e caía no desânimo. Mas isso passava e eu continuava a viver como antes. Depois, esses momentos de perplexidade começaram a se repetir cada vez com mais frequência e sempre da mesma forma. Aquelas interrupções da vida sempre se exprimiam com as mesmas questões: Para quê? Muito bem, mas e depois?”
Em seu relato, acompanhamos recortes de sua juventude submissa aos prazeres, convicções despedaçadas, uma profunda desilusão com as pessoas e ausência de propósito para a vida.
“Parecia que eu tinha vivido e andado para lá e para cá, até chegar à beira de um abismo, e via com clareza que não havia nada na minha frente, a não ser a ruína.”
Durante suas investigações, Tolstói questiona certos preceitos religiosos - principalmente da Igreja Ortodoxa Russa, da qual era membro - bem como o comportamento de devotos que apresentavam uma atitude dissonante da fé que professavam. Ele também aponta observações sobre a forma de viver de pessoas que tinham condições financeiras distintas, como cada classe social encarava a vida e o lugar da fé na realidade desses indivíduos.
“Uma Confissão” apresenta a busca do autor de forma intensa e introspectiva. Para o leitor, é impossível acompanhar essa jornada intelectual e espiritual sem avaliar os próprios comportamentos e pensar no que tem alicerçado sua existência, no que tem conferido sentido à sua vida.
“A fé é a força da vida. Se o homem vive, ele acredita em alguma coisa. Se não acreditasse que é preciso viver para alguma coisa, ele não viveria. Se ele não vê e não entende a ilusão do finito, acredita nesse finito; se ele entende a ilusão do finito, deve acreditar no infinito. Sem fé, é impossível viver.”
Antes de encerrar, preciso deixar um alerta de gatilho, pois há momentos na narrativa em que Tolstói se depara com pensamentos suicidas.
Se você curtiu esta ideia sobre "Uma Confissão", aproveite a visita para ler também "Ética a Nicômaco"!
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