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Da tranquilidade da alma

Da tranquilidade da alma
Autor: Sêneca
Tradução: Lúcia Sá Rebello e Ellen Itanajara Neves Vranas
L&PM CLÁSSICOS
Páginas: 128

Não é de hoje que questões, como aflição excessiva com o julgamento alheio, ansiedade, inveja, medo, ambição e emoções carregadas de vícios tiram a tranquilidade de muitas pessoas.

Por meio de três tratados morais, Sêneca apresenta reflexões a seus contemporâneos sobre os mais variados temas morais e expõe pensamentos que apontam meios para lidar com os obstáculos que impedem a paz.

Pensando na preciosidade dessa obra, selecionei alguns trechos para compartilhar com você. Acompanhe!

Da vida retirada

Em Da vida retirada, Sêneca fala a respeito do recolhimento das atividades político-administrativas (uma das suas áreas de atuação), pois entendia que certa distância era importante para melhorar a percepção das coisas. O autor também mostra a importância do cultivo das virtudes e do equilíbrio entre ação e reflexão.

 “Assim, vivo segundo a natureza, já que a ela me entreguei totalmente, já que sou seu admirador e servo. Entretanto, a natureza quer que eu faça duas coisas: agir e dedicar-me à reflexão. Tanto uma quanto a outra realizo, pois não pode haver contemplação sem alguma forma de ação. Pág. 26

Da tranquilidade da alma 

Sêneca mostra que podemos encontrar tranquilidade por meio de uma vida simples, pautada no cultivo das virtudes, no equilíbrio entre trabalho e descanso e entre solidão e companhia. Além disso, ele fala  sobre a importância de usar o bom ânimo para lidar com as adversidades.  

“Usa a razão nas dificuldades. As situações mais duras podem se suavizar, as apertadas podem se afrouxar, e as pesadas, se tornar mais leves, é só saber levá-las”. Página. 60.

“Solidão e companhia devem ser mescladas e alternadas. Esta desperta o desejo de viver entre os homens, aquela, conosco mesmos. Portanto, uma é remédio para a outra. A solidão irá curar a aversão da multidão, e a multidão, o tédio da solidão”. Pág. 76

Deve-se dar à alma algum descanso. Repousando, ela se torna mais atilada para a ação. Pág. 77.

Da felicidade

Nesse tratado, Sêneca fala sobre a importância de analisarmos o porquê das nossas escolhas cotidianas. 

Somos bombardeados o tempo todo com informações, mas nem sempre paramos para refletir a respeito das ideias que decidimos abraçar.

Nesse contexto, há reflexões interessantes sobre como pautamos as nossas escolhas. Você já se perguntou o motivo das suas decisões? Opta por aquilo que a maioria escolhe? É uma pessoa que se deixa influenciar facilmente? Permite que os outros decidam por você?

E, certamente, nada pior do que nos acomodarmos ao clamor da maioria, convencidos de que o melhor é aquilo a que todos se submetem, considerar bons os exemplos numerosos e não viver racionalmente, mas sim por imitação”. Pág. 84

Nesse mesmo tratado, o autor fala sobre o olhar interno, que funciona como uma ferramenta de autoconhecimento e controle sobre a única coisa que podemos ter domínio: nós mesmos.

A felicidade é, por isso, o que está coerente com a própria natureza, aquilo que não pode acontecer além de si. Em primeiro lugar, a mente deve estar sã e em plena posse de suas faculdades; em segundo lugar, ser forte e ardente, magnânima e paciente, adaptável às circunstâncias, cuidar sem angústia do seu corpo e daquilo que lhe pertence, atenta às outras coisas que servem para a vida; usar os dons da fortuna sem ser escava deles”. Pág. 87.

Sêneca
Lúcio Anneo Sêneca (4 a.C? -65 d.C.) foi um filósofo, dramaturgo, político, advogado e mestre na arte de escrever textos filosóficos. Nasceu em Córdoba, Espanha. Quando criança, foi para Roma para estudar retórica ligada à filosofia.

Por volta de 31, tornou-se conhecido como advogado, ascendeu politicamente e passou a ser membro do Senado Romano e questor.

Em 41, sob a acusação de adultério, foi exilado para Córsega, onde viveu cerca de 10 anos com muita privação material.

Em 49, Sêneca retorna a Roma a pedido de Agripina, esposa do Imperador, para cuidar da educação Nero.

Quando Nero assumiu o império, Sêneca tornou-se o seu principal conselheiro, colaborando com orientações que visavam a uma política mais justa e humana. Sêneca deixou a vida pública em 62.
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Além das tragédias que escreveu, podemos encontrar a compilação científica Naturales quaestiones (Problemas Naturais), os tratados de De tranquillitate animi ( Da tranquilidade da alma), De otio ( Da vida retirada), De vita beata ( Da felicidade) e Epistolae Morales (Cartas morais).

Em 65, foi acusado de participar de uma conspiração que pretendia matar Nero. Recebeu do próprio imperador a ordem de suicidar-se.

Os três textos, chamados de tratados morais, são repletos de ensinamentos atemporais que provocam uma reflexão sobre como estamos conduzindo a vida, quais ideias estamos comprando e de que forma estamos lidando com o nosso tempo.

Curtiu esta dica de leitura? Então, aproveite a visita para ler também “Por que fazemos o que fazemos?

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